Joy Mangano: em uma perspectiva comportamental do empreendedorismo
- Fabio Arten

- 13 de jul. de 2017
- 4 min de leitura

Robert Hisrich, Michael Peters e Dean Shepherd, destacados autores de publicações sobre empreendedorismo, são categóricos ao afirmar que “empreendedores pensam de modo diferente de outras pessoas”. Por outro lado, gurus especialistas em negócios demonstram uma predileção desmedida, ao defender o empreendedorismo como a salvação para todos os males do mundo moderno.
A pretensão deste post é modesta, pois não busca intensificar o misticismo que orbita o assunto, mas, ao mesmo tempo, apresenta certo rigor ao analisar a perspectiva comportamental de um empreendedor. Para tanto, serão destacadas partes da sagaz trilha de uma empreendedora muito conhecida nos Estados Unidos: Joy Mangano.
Em 2015, a talentosa atriz Jennifer Lawrence protagonizou o filme Joy, uma história fascinante sobre uma empresária de sucesso estadunidense, que conquistou o sonho americano depois dos trinta anos de idade, ao empreender a partir de uma de suas inúmeras invenções.
O filme retrata Joy Mangano como uma criança inventiva, que sonhava transformar o mundo com todas as suas criações. Na adolescência, trabalhava em uma clínica veterinária, quando teve a ideia de criar uma coleira fluorescente para evitar que cães e gatos fossem atropelados. No entanto, a iniciativa não passou da feira de invenções da escola. Curiosamente, um ano depois, Hartz Mountain – uma grande empresa do mercado Pet – lançou um produto similar aquele concebido por Joy. Porém, empreendedores são diferentes e apresentam uma capacidade diferenciada de aprender com seus erros.
Após o fracasso de um negócio, é provável que seja desencadeado um processo de luto – uma reação emocional negativa à perda de seu negócio. Para a psicologia, a recuperação de um luto pode ser orientada de duas formas: pela perda ou pela recuperação (ou ainda por combinação de ambas). Isto é, o processo de luto pode quebrar o elo emocional com a perda do objeto, até que as lembranças do evento não gerem mais emoções negativas ou, de modo alternativo, é possível observar um comportamento que enfatiza o enfrentamento da vida cotidiana ou no engajamento em novas atividades. Especialistas afirmam que o processo duplo de recuperação do luto é mais eficaz, pois permite a reflexão sobre a perda e, em seguida, a proatividade para novos desafios.
A verdadeira Joy Mangano, em entrevista ao The New York Times em 2001, afirmou ter aprendido uma valiosa lição naquele época: “eu disse a mim mesma, na próxima vez em que tiver uma boa ideia, a lançarei pessoalmente no mercado”.
Gestores e administradores são, usualmente, treinados para tomar decisões em um processo causal, que se inicia com a identificação de um resultado desejado e, posteriormente, concentra-se nos meios mais eficientes para alcançá-lo. Entretanto, empreendedores costumam tomar decisões em ambientes com altos níveis de incerteza e, por isso, utilizam o chamado processo de efetuação, o que implica em utilizar aquilo que se tem (quem eles são, o que conhecem e quem conhecem) para, dentre os possíveis resultados, selecionar o mais satisfatório, em vez de pensar no resultado ótimo.
Em 1989, Joy Mangano inventou seu famoso Miracle Mop (Esfregão Milagroso, em tradução livre). Em um início complicado e modesto, o primeiro protótipo foi concebido com a ajuda de um engenheiro e uma produção de, apenas, uma centena de esfregões. Durante o primeiro ano de atividades, as vendas foram baixas e Joy precisou investir aproximadamente US$ 100 mil para alavancar a produção em uma escala viável. O investimento foi financiado com suas próprias reservas financeiras, além de empréstimos de familiares e amigos.
Voltando ao filme, um dos momentos mais cruciais para a história de sucesso da empreendedora, ocorre quando ela conquista uma oportunidade de negócios com uma rede de televisão a cabo, especializada em comercializar produtos. Após algumas tentativas frustradas, as vendas dos esfregões não deslancharam e cogitou-se a quebra de contrato, devido aos números muito modestos de unidades vendidas pelo canal. Porém, Joy propôs ao diretor da rede de televisão, que ela mesma tentasse vender seu produto no ar.
Em suas próprias palavras: “eu pedi para me deixar ir ao ar e demonstrá-lo eu mesma, pois sabia que poderia vendê-lo, se pudesse apenas mostrar às pessoas o que eu tinha em mente quando eu o projetei e como ele realmente funciona”. Com o entusiasmo contagiante de um grande inventor e o com que um pitch de vendas (discurso rápido e direto), que veio direto de seu coração, Joy Mangano vendeu 18.000 esfregões Miracle Mops em impressionantes 20 minutos. Em 1995, as vendas daquele produto já haviam superado a marca de US$ 1 milhão.
De fato, empreendedores são diferentes, pois mesmo em ambientes altamente inseguros, com altos riscos, intensas pressões de tempo e considerável investimento emocional, eles são capazes de demonstrar que são dinâmicos, flexíveis, auto-reguladores e engajados no processo de criar várias estruturas de decisão. Em termos comportamentais, toda essa capacidade é denominada como adaptabilidade cognitiva e essa habilidade auxilia, quando se busca realizar uma nova atividade (como empreender), na capacidade de refletir, entender e controlar o seu próprio pensamento e sua aprendizagem.
Na história de Joy, a adaptabilidade cognitiva está evidente em sua carreira, após o sucesso do Miracle Mop. Suas invenções já geraram mais de cem patentes e seus empreendimentos ganharam diversificação em segmentos como joalheria, gastronomia e, até mesmo, cultura! Atualmente, sua fortuna está avaliada em mais de US$ 1 bilhão.
O comportamento empreendedor de Joy Mangano revela-se em suas afirmações: “Cada vez que eu invento algo e o fabrico, é tão incrivelmente excitante, que nunca consigo pensar em querer parar [...] visionar novos produtos é fácil para mim, o problema é não ter tempo suficiente no dia para projetá-los”.
Para além de toda a mitologia acerca do empreendedorismo, a história de Joy realça os aspectos que caracterizam o comportamento empreendedor. Por fim, para quem busca empreender, a compreensão desse mindset (jeito de pensar) passa por um dedicado exercício de autoconhecimento e, eventualmente, uma série de adaptações comportamentais. Por isso, não se engane, empreendedorismo é um comportamento.







































Comentários